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31.8.07

Humor nonsense

por Carlos Eduardo Corrales

"(...)o texto de hoje tem como objetivo fazer uma introdução e dar algumas explicações sobre esse tipo de humor tão rico e genial que chamamos de humor nonsense. Falarei um pouco sobre os estilos diferentes, os principais representantes, cenas inesquecíveis, etc. Aí, quando você quiser mostrar para alguém como o humor nonsense é legal, pode simplesmente passar o link dessa página. E eu idem, pois estou cansado de explicar seu valor artístico para as pessoas que insistem em negá-lo.

Na verdade, já há alguns meses venho me interessando por “estudar” o humor, seus gêneros, o que faz as pessoas rirem e por aí vai. Aliás, se eu não fosse tão não-acadêmico, é muito provável que eu fizesse um mestrado ou algo mais formal baseado nisso. Por enquanto, o máximo que vou fazer é esse texto, mas quem sabe um dia?

Pois então, em todos os campos das artes, talvez o humor nonsense seja um dos mais incompreendidos. E aí está o principal erro daqueles que começam a assistir algo do gênero: tentar compreender o que intencionalmente não faz sentido (e que tem até o nome “nonsense” por causa disso) já é, por si só, uma atitude errada, não acha? De qualquer forma, para realmente compreender todas essas coisas absurdas que acontecem nos representantes do gênero, você precisa, antes de mais nada, esquecer a realidade e coisas que fazem sentido (se é que algo faz sentido na sua vida, porque a minha parece aqueles trechos tragicômicos e absurdos de O Guia do Mochileiro das Galáxias). Depois você precisa ir além das piadas, pois na maior parte dos casos, elas são apenas as formas encontradas para discutir temas muito sérios, que vão desde críticas sociais e idéias filosóficas a sentimentos e, por que não, mostrar que a vida e a sociedade realmente não fazem sentido para ninguém.

Muitos dizem que humor nonsense é coisa de intelectual (normalmente esses se referem ao estilo como “humor inglês”, termo que eu não gosto, já que muita coisa boa foi feita fora da Inglaterra). Outros acham simplesmente bobo. Sim, meu amigo. Esse gênero é bobo, mas não confunda “ser bobo” com “ser burro”, pois para ser bem sucedido no humor nonsense, é necessário ser muito inteligente e ter pensamentos críticos. E esse é justamente o motivo pelo qual um pedaço de mim morre cada vez que alguém chama o estilo de “besteirol” ou quando vejo traduções esdrúxulas, como Corra que a Polícia Vem Aí (Naked Gun), Uma Família da Pesada (Family Guy), Kung-fusão (Kung-fu Hustle), S.O.S. Tem um Louco Solto no Espaço (Spaceballs), Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead) ou um dos piores e mais ofensivos, O Império do Besteirol Contra-ataca (Jay and Silent Bob Strike Back) e tudo mais “da pesada”, “do barulho”, “pra cachorro” e “muito louco” que você vê por aí.

Fala sério, tem muita gente que diz não gostar de humor nonsense sem nunca ter assistido, só por causa dessas traduções estúpidas. E com razão! Imagina o que os artistas que fizeram os filmes diriam se soubessem do desrespeito que as distribuidoras tupiniquins têm com o trabalho deles? E note que, no original, nenhum deles é tão infame ou imbecil, isso é coisa de brasileiro mesmo.

Em breve falarei mais sobre os diferentes estilos de humor nonsense, mas antes vamos falar do público, que se divide basicamente em alguns poucos grupos. Os nerds são provavelmente os mais ecléticos dentro do nonsense e, ao mesmo tempo, os fãs mais hardcore. É praticamente impossível conversar por mais de 10 minutos com um nerd sem que alguma referência, piadinha ou situação nonsense surja na conversa, o que contribui muito para que as demais pessoas nos achem indivíduos estranhos. Os intelectuais já são um pouco mais radicais. Monty Python é basicamente uma unanimidade entre eles mas, por algum motivo que ninguém até hoje conseguiu explicar, eles dificilmente acham graça em qualquer coisa humorística que não venha da Inglaterra, mesmo que seja até mais “pitonesco” do que o próprio sexteto inglês. Finalmente, temos as crianças que têm sua introdução no gênero através de desenhos animados infantis (sobretudo os da Warner, especialmente dos Looney Tunes) e que, alguns anos depois, serão os grandes fãs de suas contrapartes filmadas (e bem mais pesadas). Claro que existem aqueles “fãs de final de semana”, que até se divertem com alguns filmes e desenhos, mas não sabem nada sobre isso, não entendem as referências (e muito menos as críticas) e nem sabem que se trata de um tipo muito específico de humor.

Acho que isso é o suficiente para a introdução. Agora vamos falar um pouco sobre cada um dos estilos dentro do humor nonsense, dar exemplos de representantes de cada um e comentar algumas cenas e piadas clássicas (então fique avisado que o restante desse texto terá alguns spoilers)."

continua aqui

30.8.07

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"Não existem fatos, somente interpretações. Isso é fato."

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Os 7 Níveis de Consciência no Sufismo

por acid


Existem 7 níveis de consciência dentro da doutrina Sufi. Entretanto, esta divisão está mais para um imenso degradê, existindo assim diversos subníveis. O menos evoluído dos níveis é o que veremos primeiramente:

1 - Nafs ammara (O Eu que induz ao mal)
A maior parte da humanidade está neste nível. Desconectada do resto do mundo, onde busca apenas a satisfação de seus desejos. Nos níveis mais elevados de Nafs ammara o mal está na mentira (tanto pra satisfazer ao ego, como pra levar vantagens), na fraude, na sonegação do imposto de renda, enfim, nesses "pequenos" defeitos que são justificados por nossa mente. Nos níveis mais baixos encontramos os assassinos, estupradores, assaltantes, etc.

Para sair desta roda de sofrimento, você precisa estar apto a receber a misericórdia de Deus, e para isso você precisa se ver de fora, ter algo como um "grilo falante" que lhe diga que isto não é correto, por mais "benefícios" aparentes que lhe traga. É acender a centelha divina que está dentro de todo mundo. Podemos receber esse "empurrãozinho" Divino (pra que possamos nos aperfeiçoar) quando, por exemplo, sentimos um gratificante bem-estar ao se fazer alguma coisa boa a alguém. Mas isso é só a ponta do iceberg, que a pessoa deve descobrir por ela mesma, sem "recompensas".

Enfim, no Nafs ammara não há consciência de certo ou errado, bem ou mal, no seu sentido mais universal. Apenas no fim deste nível é que há a percepção.

2 - Nafs lawwama (O Eu acusador)
A consciência interior do certo e do errado. A pessoa nesse nível assume como verdade interior o que aprendeu - seja através de tradições (familiares, ou de um grupo) ou religiões. O problema aqui é esse "censor" interno ser tão rigoroso que possa levar a pessoa à depressão, ou a julgamentos muito rigorosos consigo mesmo. O que normalmente surge desse encontro consigo mesmo é o remorso, e é preciso ter muito cuidado pra não desmoronar de vez ao ver-se como realmente é. Outros, pra poder se "sustentar", preferem voltar o "Eu acusador" para os outros, e não pra ele mesmo. Então essa pessoa passa a ser uma perseguidora, uma inquisidora, se achando uma defensora do "certo", da Verdade. É uma fachada (a tal sombra de Jung) pra um problema que está dentro dela mesma. Se ela não se perdoar primeiro, se não compatibilizar o pensamento de outrora com o de hoje, não perdoará aos outros.

3 - Nafs mulhima (O Eu inspirado)
O conjunto ética/ação é o que caracteriza a pessoa nesse nível. O indivíduo passa a ter mais sonhos e visões, e a achar que coisas que não são válidas para os outros podem ser válidas pra ele. O risco nesse nível é a pessoa confundir paixão com inspiração, porque o coração ainda está dominado pelo ego. Pessoas em Nafs mulhima podem tornar-se líderes religiosos e, mesmo com a melhor das intenções, podem achar que "inventaram" ou descobriram um novo caminho pra Deus, que são enviados do Alto para a humanidade, e podem assim acabar inflando ainda mais o próprio ego, por se acharem os donos da verdade.

Do terceiro nível para cima é recomendável o acompanhamento por uma escola mística, um grupo, um apoio espiritual de quem já tenha trilhado esse caminho. Isso porque há sempre o risco do ego assumir um comando ainda maior do coração. O Mestre é um guia, que nos mostra os passos para que seja possível obter as experiência necessárias para o caminho sem tropeços. Mas é preciso que os passos sejam válidos para todos, éticos, públicos e transparentes.

4 - Nafs mutmaina (O Eu tranqüilo)
Neste nível a pessoa já aquietou o ego, e possui um bem-estar interior mais constante. Já começa a vislumbrar um efeito de integração entre todas as coisas.

5 - Nafs radiya (O Eu que está satisfeito com Allah)
Neste nível a pessoa está liberta da inflência do ego no coração. A partir daí não há possibilidade de regressão. Ele olha o mundo e consegue compreendê-lo como um sistema perfeito, sem falhas. Mas isso não significa que essa pessoa não tenha falhas, que não fique triste nem condoída com o problema dos outros. Nao há arrogância.

Se tal pessoa não morrer neste nível de consciência, fatalmente atingirá o próximo.

6 - Rafs mardiya (Aquele com quem Allah está satisfeito)
São os considerados "amigos de Allah". Jesus, além de ser considerado (pelos muçulmanos) um profeta para o povo hebreu, é também um "amigo de Allah". Bonito, não?

7 - Nafs saffiya (O Eu perfeito)
O momento em que o ego se dissolve na consciência divina, no qual, simbolicamente, amado e amante se confundem.


Fonte: Saindo da Matrix

25.8.07

Animais, humanos.

Minha primeira postagem neste blog. Não sei o que postar, então escreverei sobre algo que venho pensando há alguns dias. Não que eu seja a favor ou contra, mas é um tema interessante.

Aula de técnica operatória, a princípio os alunos demonstram sentir pena, no entanto disputam para ver quem serão os primeiros a cortar o pequeno ser. Animais criados em laboratório especificamente para serem cortados, terem suas vísceras retiradas e depois morrerem - nas primeiras vezes morrem durante o procedimento, com hemorragias por causa da inexperiência dos estudantes.

Somos humanos, somos deuses. Podemos criar animais como queremos, controlamos o destino da vida deles. Não apenas em uma aula de "técnica operatória e cirurgia experimental", mas alguns animais são criados especificamente para morrer e parar em nossos pratos: bois, porcos, aves...

Já ouvi comentários como: "Se o ser humano não criasse esses animais desse modo, eles não existiriam em tão grande número". Mas será que eles iriam querer, se tivessem a opção, ter uma vida fadada a crescer em um local muitas vezes fechado, comer, comer, comer e depois ter uma morte dolorosa? Claro que pode ter o instinto de sobrevivência da espécie, mas não deixa de ser um tema interessante. Como o homem manipula a vida.

"Deuses esmagando insetos" me dizem há pouco. Deuses? O homem está mais pra "demo". Não sou ninguém para julgar os outros e sou a pessoa menos indicada para falar em ética. Mas o que nos dá o direito de fazer isso? A capacidade de pensar? Por sermos uma espécie "superior"? Nosso ego? Ou pelo prazer que sentimos? Prazer? Sim, há prazer nisso, mesmo que inconsciente. Terça passada eu carreguei um coelho morto no colo e o levei para fazer companhia aos outros corpos de coelhos... nada agradável, mas na hora eu me prontifiquei para fazer tal trabalho - sinto que eu talvez tenha gostado da experiência.

Claro que se as aulas de técnica operatória não fossem em animais, não teria como os futuros médicos treinarem de um modo "eficaz". Se não criássemos animais para comê-los, muitas pessoas poderiam não sobreviver. É uma questão de instinto de sobrevivência, só que um instinto moderno. Um instinto levado por nossas comodidades e tecnologia. 2.000 anos atrás as coisas eram diferentes, um instinto diferente - ou igual. Talvez ele tenha evoluído - ou estagnado.

Disseram-me que para saber se algo é ético, tem que parar e pensar se você gostaria que fizessem contigo aquilo que você irá fazer com o outro. Mas que ponto de vista adotar? O da caça ou o do caçador? De certo modo, se for parar para pensar, são pontos de vista incompatíveis. Conciliar ambos parece meio difícil. Então deve ser adotado o mais cômodo. Dependendo da situação, se formos a caça podemos tentar manipular o caçador. Ou se formos o caçador acabaremos com a caça sem ter pena. O mundo não é dos fortes, é dos mais espertos.

Outro fator interessante é que as pessoas em sua maioria imaginam que estão sós no mundo. Tentando explicar melhor, é difícil tomarem consciência que a pessoa que está ao seu lado possui uma vida diferente, problemas mais complicados que os seus, entre outros. No máximo se preocupam com seus amigos e familiares. Uma coisa que eu gosto muito quando pego ônibus ou ando em grandes multidões, é olhar para cada pessoa e tentar entender o que ela está fazendo ali, o que a levou até aquele lugar, o que está esperando ela em casa, quais são seus principais problemas... é uma brincadeira divertida.
Não estou aqui incentivando o leitor a ficar pensando nos outros, apenas digo para perceber quantos pontos de vista existem. Isso faz parte do jogo da vida, caça e caçador. Conhecendo melhor o ambiente é possível chegar ao topo da cadeia alimentar.


Um pseudo-controle sobre a vida, espécies, pessoas e planeta. Não é uma sensação boa? Ter a impressão que tudo está sob controle, o mundo está girando na palma de nossas mãos... nada irá acontecer se não quisermos. É muito bom pensar assim, muito mais confortável. Eu poderia "viajar" mais nesse assunto, mas o sono está ganhando essa batalha. Fica para quem está lendo completar minhas palavras incertas, frases mal formadas e parágrafos desconexos.


Não sou vegetariana, corto animais em aulas e sou egoísta. Faça o que eu falo, não faça o que eu faço. Mas como eu não falei nada, faça o que você quiser.


LK
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20.8.07

Projeto Sái do Chão! -> Cinema Freak <-

AQUA TEEN HUNGER FORCE COLON MOVIE FILM FOR THEATERS

por Bernardo Krivochein (Zeta Filmes)

Equipamento de ginástica apocalíptico grávido. Orgia gay entre Doritos plutonianos e O Fantasma Cibernético de Natais Passados (um Cyborg Pato excitado por colunas de metal). Complexo de lofts nova-iorquinos em indústria do gênio do mal habitada por homens casados com galinhas e monstros caolhos. Melancia voadora que transporta Neil Peart do Rush (em sua estréia cinematográfica), o único capaz de realizar o Solo de Bateria da Vida e ressuscitar uma almôndega falante. Blocos de Pixels de Atari vilanescos vomitando em uma montanha-russa após ingerirem um pote inteiro de maionese. Uma Aranha DJ de hip-hop chamada literalmente “MC Mija-Calças” tocando em uma festa no Inferno. Abraham Lincoln macumbeiro construindo um foguete de madeira e se teletransportando pelo tecido do tempo-espaço. O que esperar de um filme cuja campanha promocional foi confundida com um atentado terrorista e fez parar a cidade inteira de Boston?

Levando o seriado às últimas conseqüências, “Aqua Teen Hunger Force Colon Movie Film For Theaters” é um ataque à ditadura do “sentido” através da violação dos “sentidos”, do confronto à censura. Mais além, é o pioneiro grande manifesto do pós-pós-surrealismo. A visão de um grupo de alimentos em embalagens descartáveis antropomórficos, habitantes de um subúrbio americano, tentando impedir uma ameaça alienígena (porém saudável para o físico) enquanto descobrem acidentalmente suas raízes deixaria Buñuel e Dalí verdes de inveja já mesmo a partir da impossibilidade de sua concepção e recepção. A gênese de “Aqua Teen Hunger Force” é por si só uma barreira erguida pela ciência da incompreensibilidade, cujo padrão de qualidade é a repleta falta do mesmo. Sua existência é algo tão inconcebível que o torna uma heresia.

“Aqua Teen Hunger Force Colon Movie Film for Theaters” segue em frente destemido, repleto de atitude e autoconfiança. Juro por Deus, este filme estava cagando e andando para o que eu ou qualquer pessoa achava dele. Para falar a verdade, os diretores chegam a impor uma inassistibilidade ao filme que o faz oscilar entre o insuportável e o absolutamente sublime. Estaria mentindo se dissesse que eu ri sem parar, mas não seria exagero dizer que eu não consegui passar mais de 10 segundos sério. O filme de Dave Willis e Matt Maiellaro é mais do que um sopro reconfortante de vida em uma contracultura adormecida; “Aqua Teen Hunger Force” é pós-contracultura, opõe-se a toda e qualquer coisa existente, masturbando-se furiosamente em cima de sua ridícula falta de trama principal e gozando aleatoriamente suas piadas vulgares, cruas e insanas no rosto do espectador, boquiaberto, rendido e engasgado. “Aqua Teen Hunger Force Colon Movie Film For Theaters” estabelece ele mesmo o próprio caos que os escritores necessitam para gerar o humor.

Na sua já histórica seqüência de abertura, o filme não apenas assume as verdadeiras intenções comerciais de uma produção cinematográfica qualquer (o espectador pode perfeitamente sair do cinema antes do filme começar, já que o dinheiro – que era o grande interesse - já foi pago mesmo e cinema só apresenta possibilidade de ressarcimento em casos extremos), mas vai além ao defender a visão do autor com uma sonora ameaça à crescente falta de educação do público cinematográfico: o anúncio vintage de bombonière se transforma num videoclipe de trash metal (protagonizado por um grupo integrado por uma jujuba com piercing e um nacho baterista, entre outros) cujas letras – que surgem legendadas, para não haver erro de interpretação – comandam o espectador a prestar atenção no filme, não beijar a namorada, não trazer bebês ao cinema, não piratear e a não chutar a cadeira da frente – todos os “crimes cinematográficos” com direito a punição gráfica (“Não converse! Assita!” urra o vocalista). Tal seqüência é uma forma hilária de defender e atualizar uma experiência cinematográfica clássica, situação na qual “Aqua Teen Hunger Force” desconfortavelmente se encaixaria. O longa-metragem dificilmente pode ser considerado cinematográfico, assim como decididamente não é televisivo. Num flashback expositivo, o Fantasma Cibernético de Natais Passados (e esse é o nome oficial do personagem) recorre a uma ilustração em still, praticamente um scroll, que aborda todos os elementos que fariam do Insanoflex, o monolito de “Aqua Teen Hunger Force” (trata-se de um aparelho de ginástica alienígena maligno), uma ameaça intergaláctica. Os que acusam a pobreza técnica do desenho animado, os diretores confrontam com uma imagem desprovida de qualquer movimento (o que não é nada cinematográfico ou televisivo), e sub-arte por pertencer ao (claramente) descritivo.

Nenhuma referência cultural das que abundam pelo roteiro são de fácil acesso e me surpreenderia caso eu tenha captado sequer um quarto delas – já que sua escolha prima pela obscuridade pop de eventos descartáveis que empilharam os EUA nos anos 70 e 80, e aos quais o resto do mundo – felizmente ou não – não teve acesso. Mas seu humor transcende esse exigente embasamento prévio, já que o tecido cômico se encarrega de revelar a farsa da multiplicidade cultural na era da fotocópia. É como se, realizando uma piada em cima do clichê dos filmes de bárbaros protagonizados por atores halterofilistas, ao invés de fazer referência a um “Conan, O Bárbaro”, que é uma idéia perfeitamente acessível e fixa no subconsciente popular, eles preferissem citar “The Beastmaster II” ou “Os Bárbaros” de Ruggero Deodato – e não de forma meramente superficial, mas lembrando de um momento esdrúxulo que somente aqueles que sofreram tamanho assalto cinematográfico poderão identificar. Ao compreender a piada obscura, o espectador é varrido por um sentimento de cumplicidade inabalável com os autores do filme. Em “Aqua Teen Hunger Force”, não apenas as referências como as próprias piadas originais (de humor difícil, duvidoso, até pesado) acabam se tornando fatores de cumplicidade entre autor/receptor.

E dessa forma inesperada, “Aqua Teen Hunger Force” torna-se um filme profundamente intimista, onde as gargalhadas histéricas não são tentativas desesperadas do espectador burlar a passividade intrínseca à experiência cinematográfica, mas a conseqüência final de um acúmulo de risadas tímidas consigo mesmo, que rompem a barreira de seu peito e explodem dentes afora em direção à tela, a mesma que o metralha com cada vez mais e mais motivos para continuar rindo. Ainda que o filme agrida o espectador com suas últimas palavras, é uma daquelas ofensas que só podem ser ditas quando o relacionamento já teve comprovado o mais intenso grau de intimidade. E no final das contas, os autores passaram os últimos noventa minutos se humilhando de maneira tão espetacular que as ofensas não são recebidas como provocação, mas como um voto de confiança batalhado às duras penas, um atestado de que o espectador, finalmente, faz parte da gangue.

“Aqua Teen Hunger Force Colon Movie Film For Theaters” EUA, 2007. 86 mins. Direção: Matt Maiellaro e Dave Willis. Com as vozes de: Dana Snyder, Dave Willis, Carey Means, Andy Marrill, Matt Maiellaro, Bruce Campbell. Distribuidora: First Look Pictures. Site oficial: http://www.kingcolon.com/

18.8.07

23 Skiddoo

"No seu "Livro das Mentiras", Aleister Crowley nos apresentou um poema chamado "23 Skiddoo", no qual ele explica o caminho para a evolução espiritual do homem. 23 Skidoo também foi uma expressão popular nos Estados Unidos do começo do século passado, significando "caia fora" ou "Vamos sair daqui o mais rápido que pudermos!".
Essa, aliás é a mensagem de Crowley. Caia fora. Ou melhor, Get Out. O-U-T.

Crowley não estava, porém, simplesmente usando uma expressão popular para engendrar um trocadilho revelador de segredos esotéricos. Na época em que "O Livro das Mentiras" foi revelado, o número 23 já possuía considerável tradição como símbolo ominoso. O mais famoso salmo da Bíblia é o salmo 23, que entre outras coisas lida com o "vale da sombra da morte", e, no I Ching, 23 é o número da desintegração. Mas o 23 ganharia de vez seu lugar na contracultura graças à William S. Burroughs.

Aconteceu na época em que Burroughs estava em Marrocos. O autor de "Almoço Nu" conta que conhecera, durante uma tarde de far niente, um certo Capitão Clark, que dirigia um barco de número 23. Burroughs teve uma conversa agradável com o tal de Clark, apenas para ter uma descoberta infeliz no dia seguinte... O barco de número 23 tinha afundado naquela manhã, levando o Capitão Clark para as profundas com ele. E é aí que entra a parte esquisita... ao voltar para casa, Burroughs vê na tevê que, no mesmo dia, um avião, também carregando o número 23, e também comandado por um Capitão Clark, tinha caído."

continua em Associação para a Anarquia Ontológica

13.8.07

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"Voltaire disse tudo: Uma boa citação não prova nada"

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Pretensão demais???

Olá a todo mundo...

Quero relatar a qualquer um interessado em saber que um tipo de experimento social relacionado ao discordianismo está sendo realizado. E a cobaia sou eu, da mesma forma que o cientista sou eu.

A Cabala Orkutcídio Em Massa para Adoradores de Lasagna é uma dissidência discordiana que acredita no super-homem discordiano. Eu parto do seguinte princípio:

Nietzsche expôs o seu ideal de super-homem; ele dizia que o homem deveria ser superado. Mas, quando eu olho para a sociedade ao meu redor, quando eu olho para tudo o que a sociedade e o próprio indivíduo fizeram nos anos que vieram depois da morte de Nietzsche, vejo que aspirar por algo a mais é muita pretensão.

Meu pensamento é de que o ser humano chafurdou muito profundamente na sujeira de suas próprias correntes; aquelas que ele coloca e a que os outros colocam. O homem não é mais humano; o ser humano hoje em dia baixou tanto o nível que ele virou um animal sofisticado. Usando a razão de vez em quando pra cumprir suas parcas vontades instínticas (se é que tal palavra existe, mas deixa pra lá...) de forma que "humanizar" a humanidade hoje em dia já tá de bom tamanho. Aspirar por algo a mais que isso é uma utopia muito pior do que qualquer uma.

Entretanto, aproveitando a deixa, eu comecei, nos escritos do Livro da Lasagna de Mamão, a interpretar o super-homem nietzscheano de maneira diferente; até que cheguei a uma idéia diferente da dele; tão potencialmente diferente que prefiro não mais chamá-la de interpretação. Já virou outra coisa mesmo. O que eu chamo de "super-homem discordiano"

É pretensão demais? É... É um pouco de atrevimento? É... É um pouco de generalização? É, também é... Mas e daí? As minhas idéias não fogem do discordianismo; não faço mau uso de Éris. Apenas sou individualista, eudemonista hedônico curto e grosso, anarquista, agnóstico, e adepto da idéia de que unir razão e emoção é um casamento que faz a vida ser livre E feliz at same time. ISSO é ser muito diferente do discordianismo? Suponho que não, certo?

Droga, o texto tá ficando longo. Tá ficando chato. Deixa eu terminar só: depois de muita falaçada e de perceber em mim mesmo que o discurso tava foda e a ação tava pouca, resolvi botar em prática algumas coisas que vi por aí, como por exemplo aquele negócio hihicroned do "explosão da mente". Mal comecei e já tenho dúvidas; tou tentando mudar, ser diferente, tentar seguir meus próprios ideais sobre a alcunha do "super-homem discordiano". E isso assim, do dia pra noite. Resolvi escrever essas experiências e esse diário tá lá na cabala. Portanto, quem quiser acompanhar... orkutcidio.wordpress.com

Salve Éris!

PS: Só agora percebi que essa "modificação" toda ocorreu na véspera do feriado de Zarathud. Wow.

11.8.07

Anarquismo, Religião e Misticismo

por Reverendo Fernando Ganso

O anarquismo histórico, em seu período mais turbulento e ativo, no final do século XIX e inicio do século XX, levou uma critica importante contra as instituições religiosas ocidentais, as relações entre as pessoas e Deus – Deus, segundo a teoria cristã, bom ressaltar -, e ao próprio conceito de Deus. Cabe a nós, em pleno século XXI, escutar essa critica de maneira a observar de que modo ela esta ligada a seu próprio tempo, suas intenções, sua validade na sua época especifica de que maneira ela ainda é valida no nosso tempo.
Bakunin, por exemplo, como um dos principais práticos do anarquismo, após o termo ser formulado por Proudhon, via as religiões de maneira nefasta, como intimamente ligadas ao Estado; os dois males da sociedade seriam, primeiramente, Deus e o Estado. “Sua visão ateísta é muitas vezes colocada como uma posição anti-Deus, negando qualquer poder a um ente superior. A crítica de Bakunin vai denunciar inicialmente a estreita e intensa relação entre o poder do Estado e de sua oligarquia dirigente com o poder da Igreja e o do clero, ambos grupos defendendo seus próprios interesses contra aqueles da maioria da população” (Mata). Segundo ele:
“Sendo Deus pressuposto, tudo isso é rigorosamente conseqüente: Deus é o infinito, o absoluto, o eterno, o todo-poderoso; o homem é o finito, o impotente. Em comparação com Deus, sob todos os aspectos, ele é nada. Somente o divino é justo, verdadeiro, belo e bom, tudo o que é humano, no homem, deve ser por isso mesmo declarado falso, iníquo, detestável e miserável. O contato da divindade com esta pobre humanidade deve, portanto, necessariamente devorar, consumir, aniquilar tudo o que resta de humano nos homens” (p. 24). (Bakunin apud Mata).
De fato, desde aquele período, o cristianismo (apostólico romano e bizantino) decresceu em termos de poder, contudo, ainda vive com uma força absurda em nossa sociedade ocidental (cristianismo aqui entendido, como colocado, como a parte “institucionalizada” do mesmo). Ainda é constante vermos a antiga atitude de lidar com Deus de uma maneira passiva, de modo a projetar toda as causas de benefícios e malefícios acontecidos em suas mãos, renegando inclusive nossa própria responsabilidade nas mãos dos desígnios divinos, um exemplo clássico seriam as frases: “Por que Deus esta me punindo?” ou “Por que Deus quis assim?”. Sartre, por exemplo, chamava essa atitude de não assumir as responsabilidades por nossas ações de má fé. Se considerarmos que os desígnios divinos eram as interpretações do poder eclesiástico sobre a Bíblia, poderemos compreender melhor a insubmissão anarquista, já que, de maneira nítida, o poder clerical estava intimamente ligado ao poder político e hierárquico da sociedade da época.
O anarquismo dentro do contexto social do iluminismo atentou para o poder maciço da religião como forma de controle, de domesticação e manutenção do Estado, especialmente sua forma de poder absoluto, durante a Idade Média. Essa visão, em grande parte, permanece assim até hoje. Podemos ler, por exemplo, “a French Encyclopdie Anarchiste (1932)” que cita um artigo de Gustave Brocher sobre ateísmo: ‘Um anarquista, que repudia tanto um senhor todo-poderoso na terra, como a autoridade de um governo, deve necessariamente rejeitar a idéia de um poder onipotente ao qual tudo deve estar sujeito; para ser consistente, ele deve declarar-se ateu’” (Walter).
Se a critica anarquista atentou, em sua observação, para o modo em que a religião usurpava o poder popular e reprimia as revoltas, autonomias e insatisfações, temos que observar que em muitos casos existiram religiosos que tiveram outra relação, tanto com Deus, quanto com a sociedade, de maneira a não propagar a onda hierárquica e totalitária. Um exemplo inicial pode se dar “No judaísmo” onde “profetas do Velho Testamento desafiam reis e proclamam aquilo que hoje é conhecido como ‘Evangelho Social’. Um dos mais eloqüentes textos bíblicos é o cântico de Ana ao conceber Samuel, que ecoa no cântico de Maria ao conceber Jesus: ‘Minha alma louva ao Senhor; e meu espírito se regozija em Deus meu Salvador... Ele abateu o poderoso com seu braço; Ele dispersou o orgulhoso na dureza de seus corações. Ele derrubou o poderoso de seu trono; Ele exaltou o fraco e o humilde. Ele saciou o faminto com coisas boas; e deixou os ricos sem nada’” (ibid).
Durante o século XVII um grupo chamado de “cavadores” (diggers) já mostrava grande parte da base do ideal anarquista que despontaria a seguir. Este movimento teve suas bases nas idéias de Winstanley e William Everard e criaram sua teoria “em 1648 e passaram à ação em 1649” (Woodcock: 48) onde privilegiavam a razão, o reinado de Deus dentro do homem (antecipando Tolstoi e com uma visão similar a maioria dos misticismos), o fim da propriedade privada, etc. Winstanley afirmava a necessidade de tomar propriedade e participou, inclusive, da criação de uma sociedade como ele idealizava ganhando uma pequena adesão popular, mas sendo atacado ferozmente, até seu comunismo rural ser “vencido”. Winstaley dizia:
“Todo aquele que tem autoridade nas mãos procede como um tirano; quantos maridos, pais, patrões, juízes portam-se como senhores, oprimindo os que estão sob seu poder, sem saber que essas esposas, filhos, servos e súditos são seus semelhantes e têm os mesmos direitos a repartir as bênçãos da liberdade” (Winstanley apud Woodcock: 49). E prossegue com seu discurso nitidamente libertário: “Que todos os homens digam o que quiserem: enquanto tais senhores afirmarem que a terra lhes pertence, protegendo essa propriedade privativa, que é minha e tua, o povo jamais conseguirá obter a liberdade e a Terra não ficará livre de problemas, opressões e queixas. É por essa razão que o Criador de todas as coisas está constantemente enfurecido” (ibid: 50).
Muito próximo ainda as idéias de Winstanley podemos observar, durante a revolução francesa, os Enragés. Estes, segundo Woodcock, não formavam exatamente um pensamento homogêneo, ou um partido, mas antes um grupo de desagregados que cooperavam entre si, “defendendo a idéia de que o povo deve exercer ação direta e vendo nas medidas econômicas comunistas, mas do que na ação política, o caminho para acabar com o sofrimento dos pobres” (ibid: 60). O principal representante dos Enragés foi o padre Jacques Roux que “certa vez, definiu sua tarefa como sendo: ‘a de tornar os homens tão iguais entre si quanto são iguais por toda a eternidade diante de Deus’” (ibid:61) apontando também para o fato de que qualquer forma de governo deveria ser proibida, desafiando os jacobinos. Roux foi preso e condenado à morte, se matando, contudo, antes.
Um dos grandes revolucionários cristãos que, se por um lado não se dizia anarquista, por outro era um dos que mais pode ser associado com o termo, se chama Léon Tolstoi. Ele viveu depois que o ideal anarquista já havia sido propagado com este nome por Proudhon, e foi influenciado pelo francês. Tolstoi conseguiu reunir um dos elementos essenciais que o anarquismo trouxe em contraposição ao “socialismo autoritário” que foi a importância do individualismo, ou melhor, a importância do indivíduo. Outro elemento primordial da crítica de Tolstoi aproveitado por uma série de movimentos vindouros foi a não violência o que foi utilizado por, nada mais nada menos, que o grande revolucionário indiano Mahatma Gandhi (Mahatma, do sânscrito "grande alma"). Podemos ver toda influência anarquista nas palavras de Tolstoi: “Todos os governos são bons e maus na mesma medida. O melhor ideal é a anarquia” (Tolstoi apud Woodcock: 257) e “Considero todos os governos (...) não só o governo russo, como instituições complexas, sacramentadas pela tradição e pelo costume, que existem apenas com o objetivo de cometer, pelo uso da força e da impunidade, os mais revoltantes crimes. E acredito que os esforços daqueles que desejam aperfeiçoar a nossa vida social deveriam ser dirigidos no sentido de libertarem a si mesmos dos governos nacionais, cujos erros e – acima de tudo – cuja inutilidade tornam-se cada vez mais aparentes em nossa época” (ibid: 260). É interessante ainda observar que Tolstoi manteve algum contato, mesmo que de longe, com anarquistas clássicos da época como Kropotkin e Proudhon – aos quais admirava -.
O próprio Kropotkin, anarquista comunista que reverenciou a ciência clássica, fez suas observações sobre alguns desses religiosos, quando diz:
“Este movimento começou por ser anarquista comunista, pregado e posto em prática em algumas comarcas. E, abstraindo as suas formulas religiosas, que constituíram um tributo pago à época, encontramos nele a mesma essência das idéias que nós, anarquistas, representamos atualmente: negação de todas as leis do Estado ou divinas, a consciência de cada indivíduo é que deve ser a única aceitável; a comuna, dona e senhora absoluta de seus destinos, recuperando, dos senhores, todas as terras, e negando ao Estado o tributo pessoal ou em dinheiro; enfim, o comunismo e a igualdade postos em prática” (Kropotkin apud Lúcio).
Esses movimentos que Kropotkin fala são movimentos que utilizaram a base gnóstica e a fizeram ressurgir. Eis Kropotkin dando nome aos bois:
“Na Boêmia teve o nome de movimento hussita; e de anabatista, na Alemanha, na Suíça e nos Países Baixos. Pode-se afirmar que estes movimentos, além de constituírem uma revolta contra o senhor, tinham uma outra característica: a revolta completa contra o Estado e contra a Igreja, contra o direito romano e contra o direito canônico, em nome do cristianismo primitivo” (ibid).
Estes movimentos tiveram, portanto, origem de movimentos gnósticos antiautoritários que podem ser inclusive, segundo uma interpretação, um proto-anarquismo. A critica dos anarquistas, no século XIX e XX, aos religiosos estava calcada, sobretudo, sob a égide do movimento positivista e de tal forma esteve incluída em seu tempo que não observou as alternativas que a própria religião demonstrou durante toda sua existência. Desde as palavras de Jesus, contidas em Salmo 82,6: “pois bem, eu vos disse: Sois deuses; sois todos filhos do Altíssimo" como as palavras de São Paulo onde diz que: “a graça eleva o homem acima das leis deste mundo”, poderiam e levaram a interpretações contra as autoridades ctônicas tais como os governantes, o estado e as leis constituídas. Acrescente-se também toda questão envolvida no cristianismo do Espírito Santo, i,e, o paráclito. O paráclito é totalmente indesejável para a Igreja, pois leva na verdade o contato com Deus (Self) ao próprio indivíduo e não mais é necessária mediação da Igreja ou dos padres, todo ser passa a ser, a partir dai, sagrado. Segundo a interpretação de Jung em Resposta a Jó : "A ação continua e direta do Espírito Santo sobre os homens convocados à condição de filhos de Deus é, de fato, uma encarnação que se realiza permanentemente. Enquanto filho gerado por Deus, Cristo é o primogênito ao qual se seguirá um grande número de irmãos nascidos depois dele” (Jung, 2001) Os anarquistas em seu contexto não observaram as possibilidades também revolucionarias (apesar de trabalhar mais com a subjetividade, ou com aspectos ontológicos) dos movimentos religiosos, místicos ou congêneres.
O gnosticismo valeriano, por exemplo, tinha um sistema de crenças que tentava romper com o que eles chamaram de estado de sistase. A sistase seria um limitador da nossa potencialidade divina (do espírito, das partículas divinas, ou atmás) que foi presa pelo Demiurgo, um anjo ou deus criado em todo processo ocorrido na queda de Sofia (outra divindade gnóstica do seu mito cosmogonico) e que sem o saber inibia o ser humano ao contato com o pleroma, a realidade verdadeira para os gnósticos (encontrada na câmera nupcial, que pode ser descrita pelo evangelho de Felipe); inibia, sobretudo, o ser humano de entrar em contato com suas forças originarias, deixando-o preso então no kerona (do gr. kenósis- esvaziamento). Essa singularidade oculta era protegida por sete arcontes, demônios de Demiurgo que eram materializados nas figuras dos governantes. Esse jogo de deuses e demônios era em maior parte, para o gnosticismo, símbolos ou alegorias.
Cabe a nos, hoje, tentar permitir essa liberdade de crença de modo a não criar um dogma ateu que arbitrariamente limite a crença dos indivíduos. Sem deixar de observar, contudo, as criticas anarquistas as instituições verticais, tais como a Igreja, que todo o momento tenta servir de mediador entre a população e a divindade, forjando uma única interpretação de todas as escrituras consideradas como sagradas, alienando a população, dessa forma, de sua autonomia. Como diz Kropotkin sobre Denck (anabatista):
“...quando perguntaram a Denck, um dos filósofos do movimento anabatista, se reconhecia a autoridade da Bíblia, ele respondeu que somente a regra de conduta que um indivíduo encontra, para si, nessa mesma Bíblia, é que constitui a obrigação da sua consciência.” (Kropotkin apud Lúcio).
A existência de religiões que, não só não renegam, como apóiam um modo de ser autônomo e uma sociedade que busque tal autonomia antiestatal, mostram a pluralidade de intenções dentro do mundo religioso, desde as mais dominadoras ate as mais libertarias. Dever-se-ia, portanto, creditar esta liberdade de crença e em especial, compreender que não existe ligação intrínseca entre autoritarismo, centralismo e religião ou mística.
Um possível exemplo, por mais complicado que seja, de misticismo-religioso ligado aos ideais pré-anarquicos são os Iluminati. “Fundada em 1776, na Bavária, por Adam Weishaupt, a Ordem dos Iluminati tornou-se o protótipo da sociedade secreta disposta a dominar o mundo e inspirou uma trilogia alucinante e alucinada de Robert Anton Wilson que, por sua vez, serviu de inspiração a um RPG criado por Nigel D. Findley. (...) A imagem popular dos Iluminati como personagens sinistros, ocultos nas sombras e manipulando os acontecimentos com uma influência sutil e pervasiva, porém, está muito longe da realidade e surgiu, de fato, da pena fantasiosa de autores de direita, que viam nas propostas libertárias de Weishaupt uma ameaça ao status quo e fizeram o possível para desacreditá-lo junto ao público (...). Muito pelo contrário, a criação dos Iluminati da Bavária marca uma das raras ocasiões em que as duas grandes tendências históricas nascidas do movimento gnóstico - o esoterismo e o anarquismo - tornaram a se encontrar “(Lúcio). As idéias de Weishaupt tiveram uma forte influencia do iluminismo, dos jesuítas, da maçonaria, dos místicos cristãos. De fato, assim como no anarquismo histórico, a meta dos Iluminatti de Weishaupt “(...) era uma sociedade sem classes, sem estados e sem fronteiras. Para atingir esse objetivo era preciso, antes de mais nada, libertar o ser humano dos condicionamentos impostos pelos donos do poder. E é ai que entrava a Iluminação, entendida ao mesmo tempo como uma emancipação filosófica e uma transformação espiritual: ‘A iluminação universal torna as nações e os governos supérfluos’” (ibid).

Na contemporaneidade, onde a lógica positiva e discurso cartesiano deixam de ser os principais avatares de uma época, abrem-se as margens e cresce a demanda por um novo paradigma, uma nova compreensão da vida e dos discursos. É nesta época que temos o surgimento, por exemplo, da magia do caos e do anarquismo ontológico de Hakim Bey. Ambos influenciados pelo misticismo, como o caso do sufismo em Bey, e pela pluralidade religiosa, como a liberdade de uso de qualquer crença ou sistema de magia na magia do caos. Contudo, por mais que possamos associar essas teorias e práticas ao anarquismo podemos observar que, em certos pontos, elas estão um pouco distantes do modelo de anarquismo social, compromissado com a luta de classes. Se ficarmos atentos, poderemos perceber, que se trata antes de desfazer todo o condicionamento do ser humano que, limita a sua imaginação, sua criatividade, sua potencialidade, i.e, o caos criativo. A magia historicamente pode ser dividida em duas grandes vertentes, a baixa magia que é aquela que busca realizações materiais, por exemplo: “mulheres, homens, carros, dinheiro, etc” e a alta magia que busca uma realização interior, o encontro com nosso deus interior a exemplo dos diversos misticismos. Poderíamos citar o Sagrado Anjo Guardião entre os thelemitas, o Zos-Kia entre os caoistas, o Cristo interior entre os gnósticos, etc... É claro que existem diferenças brutais entre as crenças ou experiências, contudo, este parece ser um caminho possível para o des-condicionamento do consenso, das leis que mantém nossa criatividade e, logo, nossa subversão dentro do “controle social”.

A transmutação do ser e da cosmovisão dominante parecem imperativos essenciais para o anarquismo dar conta da realidade a qual visa estar construindo, não necessitando que suas revoluções sejam temporárias e o sucesso se estabeleça apenas em exercer “sua” vontade de potencia, e que também não fique apenas no lado paternalista representado por Zeus, ou maternalista representado por Demeter, que foi na mitologia grega uma “protetora das criaturas jovens e indefesas”. Justamente esta transmutação do ser dá ao individuo a possibilidade de estabelecer para si uma ética que possa estar, até mesmo, em contraponto a sociedade, quando assim for necessário, chegando a sua própria Vontade, ou a seu próprio ser, que jaz no seu mais intimo e profundo inconsciente. Não se trata, talvez, da necessidade implícita de uma religião, mas antes parece importante uma mudança na pessoa para que o ideal anárquico não se desvirtue em autoritarismo, sociedade de classes ou poder dos mais “fortes” sobre os mais “fracos”.
Perguntemos, portanto, se esses dois modos de visão são excludentes ou se, ao contrário, eles se complementam. Será possível um anarquismo compromissado com a realidade objetiva e subjetiva?


Bibliografia:

Bey, H. Zonas Autônomas Temporárias.
Bicalho, Pedro. O Cárcere da Razão: o aprisionamento de sambistas no universo cartesiano. 1998
Jung, C. G., Resposta a Jô. Petrópolis: Vozes. 2001 B. (1952).
Lúcio. Magia e Anarquismo.
Mata, J. Anarquismo e Religião: a negação do Deus criador enquanto princípio de insubmissão.
Walter, Nicolas. Anarquismo e Religião; Baseado em uma palestra proferida em South Place Ethical Society em 14 de julho de 1991. Traduzido e adaptado por Railton. Coletivo Periferia.
Woodcock, G. História dos Movimentos Anarquistas, v1: A Idéia.

8.8.07

Lego gigante é resgatado do mar na Holanda



Um boneco Lego gigante foi retirado do mar ontem no resort de Zandvoort, na Holanda. Funcionários de um bar na praia resgataram a peça de 2,5 m, com cabeça amarela e torso azul, com a frase "No real than you are" (não menos real do que você é).
"Nós vimos algo no mar e decidimos tirar da água", disse um dos funcionários. "Eu vi o Lego flutuando perto da praia, vinda da direção da Inglaterra", adicionou uma mulher. O boneco foi colocado em frente ao bar, segundo a Reuters.

Fonte: Popular

7.8.07

Curiosidades da Etimologia - parte 2: Trabalho

O significado da palavra trabalho remonta à sua origem latina: tripalium (três paus) - instrumento utilizado para subjugar os animais e forçar os escravos a aumentar a produção.

O tripalium era, pois, um instrumento de tortura, algo semelhante à cruz que o rebanho cristão adotou como objeto-símbolo de um culto masoquista.

Vão-se os objetos, ficam as palavras: por volta do séc. 12, o termo já tinha ingressado nas línguas românicas - traball, traballo e trabalho (Port.), travail (Fr.), trebajo, trabajo (Esp.), travaglio (It.).

Embora na França rural, até hoje, travail ainda sirva para designar uma variante do tripalium - uma estrutura de madeira destinada a imobilizar o cavalo para trocar ferraduras ou efetuar pequenas intervenções cirúrgicas-, em todas essas línguas o termo entrou como substantivo abstrato, significando "tormento, agonia, sofrimento".

Fonte: República de Fiume

2.8.07

Uma Aliança Hare-Krishna/Thelemitas/Maçons teria assassinado ou estaria controlando a mente de Malprg, O Franco-Atirador?

por Reverendo Johnny 3,14 ou outra entidade temporária

Todos os leitores espertos e atentos desse blog sabem que o Franco-Atirador está morto. Os próximos posts irão determinar que grupo controla o sósia que foi posto no lugar dele.

Os frequentadores mais atentos devem ter percebido que desde o post do dia 10/05, o Franco-Atirador não escreve nenhum post com muito conteúdo. O post subsequente, o do dia 11/05, é a chave para descobrir o que aconteceu com nosso ilustre articulista.

Os fãs do R.E.M. (como este que vos escreve) podem estar familiados com o título do post, "Blow Your Horn", mas se forem um pouco mais atentos, percebam que em nenhum momento ele postou o título da música que é "Finest Worksong", a primeira música do disco. É óbvio que se ele não colocou o título da música, ele não queria se referir a ela e sim a outra música do disco citado, mas qual música? Tendo postado quatro estrofes da bela canção, Fui levado a investigar a quarta música do álbum, e qual não foi minha surpresa ao descobrir que se chamava "Disturbance at the Heron House".

Qual seria a casa de Hierão a qual a banda da Geórgia se refere? Os estudiosos das sociedades secretas sabem que Hierão de Tiro, construtor do templo de Jerusalém, é parte da cultura maçônica. Só isso seria suficiente para determinar os assassinos do nosso blogueiro preferido? Acho difícil.

Passemos à analise dos posts seguintes. Os posts dos dias 21/05 e 25/05 mostram a contínua degradação da mente do Franco-Atirador, provavelmente induzida por uma combinação de fluoretação da água + lasers orbitais de controle mental ou mensagens subliminares nos seus programas de TV preferidos.

Depois, três figuras enigmáticas. A referência a Daath, comum para um ocultista que intuitivamente se sabe próximo da morte. A Estrela, que pode levar a acusação na direção de Thelemitas insatisfeitos com as críticas do FA às suas ordens mágicas, e o post de título "Govinda" que leva qualquer estudioso da conspiração sério a cogitar uma nada improvável aliança Hare-Krishna/Thelemitas/Maçons ou na existência de uma corrente de Hare-Krishnas Thelemitas dentro da Maçonaria.

Ouroboros decora o próximo post. Pelo pequeno texto que acompanha a figura, talvez o último texto escrito por ele em "plenas faculdades mentais", leva a crer que o FA estivesse finalmente consciente do que estava acontecendo e tentou nos mandar um sinal. O que ele estava querendo dizer?

Logo depois fico sabendo que ele deletou um comentário. Um fato raro, sem dúvida, levando se em conta que o tolerante Lúcio sempre aceitou as mais variadas formas de manifestação intelectual em seu blog.

Levando-se em conta os fatos acima apresentados, pergunto: Será que os Thelemitas Hare-Khrishnas Maçônicos já controlam totalmente a mente do Franco-Atirador? Ou forças mais sinistras (e mais secretas) o manipulam para fins ainda mais terríveis? Isso teria relação com outros fatos observados no país? Apenas Ganesh poderia dizer.

Magistas, preparem seus sigilos! Artistas marciais, levantem a guarda! Mantenham-se alertas! Talvez isso seja um primeiro movimento do Demiurgo pelo controle total da espécie humana.

Que Éris proteja a nós todos.

No 67º dia da Confusão do ano de 3173 de Nossa Senhora da Discórdia
Reverendo Johnny P.
Diácono Fundador da Cabala Discordianista Raul Seixas
Mestre nada Secreto da Ordem Hermética dos Magos de Ruim

1.8.07

Googleit!

Just Fucking Googleit, ok!?

A Falta de Revisão

Esse post ia pro meu blog, mas preferi dar ele de presente ao tudismocroned. Sou colaborador e nunca escrevi (apesar de ter alguns textos meus aqui), então vou compensar isso.

Meu professor de inglês, Alex, contou a nós sobre um conselho dado pelo professor de redação dele há muitos anos. Ele disse que, para um texto ficar bom, eram necessários 4 rascunhos: reescrever o texto três vezes para fazer dele o melhor que você consegue.

Meu professor ressaltou o fato de que é um péssimo escritor e que talvez por isso precise dessa técnica. Eu acho que meus textos ficariam melhores depois de uma revisão, mas não gosto de fazer isso nos textos que vão pro blog. Prefiro-os crus, diretos, com pequenas correções quando há algo que atrapalhe a compreensão, e só.

Muitas vezes eu me pego com uma grande inspiração. Numa só noite, escrevo vários posts para o post. A última vez que fiz isso, dez posts saíram assim, em umas três horas, pra serem aproveitados lentamente... Até hoje eles estão rendendo (porque no meio do percurso vai surgindo algo novo mesmo). E mesmo eles lá, guardados, não sofrem modificação, não são revisados, nem reescritos, nem nada. Estão lá porque retratam, sem maquiagens, a estrutura dos meus pensamentos e o modo como escrevo, originalmente, sem liquid paper.

Esse texto, por exemplo, foi direto do Word, CtrlC CtrilV...